sábado, 2 de outubro de 2010

Talvez eu vá, depois

A gorda do “Vocês, os vivos”. Ela dizia “talvez eu vá, depois”. Ou algo parecido com isso. A cada vez que o namorado ameaçava ir embora. O filme é uma loucura. Tem cor de hospital mas é tudo tão mal enquadrado que não passa sensação de doença, sabe? Você vai gostar do discurso do psiquiatra. E do sonho da menina do bar. Ou talvez eu que goste de tudo isso. Você tem que ver. Tá me ouvindo? Acorda, vai. Conversa comigo. Não capota. Eu quero te contar que fui a pé comprar ingresso pra gente. Pra gente ver “Só” lá no Sesc da Paulista. Vamos comigo, vai? Você pode? Eu te contei do filme da boba alegre? Fui ver “Simplesmente feliz” e desde então tô querendo ser ela. Nunca quis tanto ser uma personagem de filme. Agora eu puxo papo com gente em livraria só porque queria ficar triste que roubaram minha bicicleta e eu não me despedi. Tá ouvindo? Daqui a pouco a gente pode transar ou ficar quieto uma eternidade. Mas agora, eu queria te contar. Do meu dia. Te contar do cara do Pilates que me manda sentir o períneo e o úmero. Eu tenho tanto tesão por ele. Tá me ouvindo? Ri comigo. Porque é engraçado. Quando ele fala do úmero eu penso no úmido. E quando ele fala do períneo. Nossa. Ele me “encoxa” para eu não sentar na bacia enquanto ando. Sabia que eu ando sentada? E fala no meu ouvido, com a voz mais grossa do mundo “pe-rí-ne-o”. Quanto nome o mundo inventa. Pra quê? É tudo pinto. Absolutamente tudo. E o que não é, é a falta dele. O que não é sexo, é o oposto do sexo. E aí volta duas vezes mais forte. Tipo nosso não estar. O castrado da vida. Vixi. Vai mijar? Então deixa a porta aberta pra me ouvir. Tô com formiga no peito e pior é que fui sentar em cima. Vamos, vai. Colocar bem alto. Jigsaw falling into place? Tô tão obcecada. É tão foda porque vai calminho, calminho. De repente esse filha da puta canta tanto. Divide isso comigo, só isso. E hoje no House ele falou sobre neurônios espelho. De quando alguém boceja e daqui a pouco todo mundo boceja. Aí fiquei me perguntando quem é que começa. Eu não sei. Mas eu sei quem acaba. Quer dizer. Eu não sei também. Quer goiabinha? Escuta. Aperta minha mão. Tá me dando aquela pena de mundo, sabe? Vem a imagem de um tappeware com um pedacinho de bolo. Minha mãe preparou e eu fiquei com preguiça de trazer. Isso nunca aconteceu, mas eu fico sofrendo como se tivesse. E passo o dia levando sustos como se todos os carinhos simples, que esqueci de reparar, fossem bonecos de mola macabros que saltam do nada. Não sei o que isso quer dizer, amor. Mas você sabe. Então, aperta minha mão e me diz que eu posso deixar tudo isso pra trás sem tanta dor. Eu preciso ser adulta sem achar que tô matando o principal. Entende? Você pode? Me amar quando eu não posso ser adulta? Pra que eu seja sabendo que se eu não puder tudo bem e isso me dá forças pra ser mais e mais? Eu já sou. Você pode? Entrei no tal do Facebook aconselhada por uma amiga “ajuda a vender livro”. E vi tanta gente que eu não queria. O mundo é cheio de gente. Tantas, tantas, tantas. De amigas falsas, você não sabe. Mulher é uma raça nojenta, amor. Quer água? Deixa eu te explicar minha teoria da seleta e maravilhosa turma fechada? Eu tenho uma teoria que é assim. Existe uma seleta e maravilhosa turma fechada. Pessoas incríveis e jamais solitárias e muito bem colocadas no mundo e que sabem tudo. Nessa turma tem louco mas também tem algo mais bizarro tipo advogado. E eles são tão legais. Sabe quando você recebe um vídeo incrível e quer contar pra alguém? Coitado da gente. Porque o pessoal da turma mais legal do mundo e mais fechada e mais foda já viu tem uns dois anos. E só agora essa merda chegou pra você. E esse é o meu grande sofrimento. Porque eu acho que preciso ler muito e escrever muito e malhar muito e saber muito. Pra um dia. Um dia. As portas do paraíso. Gente de primeira. Mas nunca achei. Os grupinhos, espera aí, não me aperta, deixa eu acabar de falar. Os grupinhos quando não se juntam pra cheirar se juntam pra esperar a casa cair. Quem é que não é sozinho? Me abraça, pelo amor de Deus. Me abraça. Ainda bem que eu tenho você. Me abraça. O mundo é tão bom e tão terrível e o tão bom também é tão terrível. Que bom. Que eu tenho você. Que bom. Meu amor. Que bom. Puft. Puft. Acordo. E você não existe. Você não existe. Ele não existe! Talvez eu vá, depois.

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