Tava eu lá, caminhando pela Lagoa, sabadão de sol, super bem acompanhada (to falando das três sacolas cheias de roupas incríveis) e pensei: eu sou mesmo muuuuuito foda.
Vejam só como eu sou realmente muito foda: cá estou eu, passeando pela Lagoa, sabadão de sol, cheia de compras, meio morando no Rio por causa de um trabalho que era meu sonho, meio morando em São Paulo pra tocar outras coisas que também sempre foram meu sonho. E vejam só: agora eu parei e me sentei num banquinho incrível e estou de frente para o Cristo Redentor. Ai como eu sou foda.
Fechei os olhos, o sol dourando a ponta do meu nariz, uma água de côco geladinha, daqui 10 minutos vou encontrar uma super amiga pra almoçar num lugar muito charmoso. É, Tati, que foda que você é. Muito foda.
E de repente, num ato de alegria profunda que só quem é muito foda pode ter, eu me levantei alegremente e continuei a caminhada, agora com os olhos meio turvos porque eu ainda guardava uns restos de sol na minha retina.
E olhos turvos vindo daqui, homem babaca vindo dali, a super foda Tati esbarrou de leve (tá bom, não foi exatamente de leve) no homem. Homem babaca olhou para um lado, olhou para o outro, e não teve dúvida, pensou: “vou aproveitar que minha vida é uma merda, meu pau não sobe e eu não recebi nem um pouco de carinho na vida, e vou ser grosseiro com essa garotinha feliz. Ei, sua vaca, tá achando que é quem pra atrapalhar minha corrida?
Pára tudo. Flashback na cabeça. Me lembrei de quando eu só tinha 14 anos e dei meu segundo beijo de língua da vida no Alexandre, o menino mais playboy e mais gato da minha rua. Ele disse que viria me ver e eu me achei muuuuito foda, mas muito mesmo. E fiquei uma tarde inteira no portão da casa dos meus avós, esperando por ele, na companhia do meu ego muuuito foda. Até que minha falta de óculos (claro que eu esperava pelo Alexandre sem meus fundos de garrafas) me fez confundir meu paquera com um cara qualquer na rua. Percebendo o erro me pus a rir como só uma garota muito novinha e pura riria. O desconhecido não entendeu nada e berrou sem dó “ei, sua vaca, tá achando que é quem pra rir de mim?”
Minha mente seletiva (o que não significa uma mente que esquece o que é ruim, mas que arruma coisas piores para substituir) me fez esquecer o acontecido. Até que eu tava muito feliz, na Lagoa, no sabadão de sol, com minhas comprinhas, e mais uma vez a pergunta “tá achando que é quem”?
Aproveitei que estava de frente para o Cristo e perguntei, se não me engano em voz alta (para o delírio dos cariocas passantes que adoram falar que paulista é uma raça maluca): por que raios toda vez que eu to me achando muuuuito foda, muuuito feliz e muuuito amando algo, algum merda vem e me lembra que eu não sou porra nenhuma? Heim, Deus? Deeee-us, to falando com voceÊ!
E ele, eu juro, me respondeu (em forma de superego camarada): ei, ce ta achando que é quem pra me encher justo no dia em que eu sou eleito uma das maravilhas do mundo?
Bom, pelo menos ele não me chamou de vaca.
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