sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Tereza e um milésimo de segundo

O tempo todo escuto das mais variadas pessoas uma mesma observação: você é, você é... diferente.

Algumas dizem isso com a cara assustada, como se não soubessem lidar com alguém que escreve com tanta transparência sobre a própria vida. Será que, se eu der bom dia para essa menina, ela vai escrever um conto sobre mim?

Me olham como se eu fosse perigosa, louca, estranha.

Outras me olham como se tirassem sarro de mim, como se dissessem, sem dizer, que, já que eu resolvi deixar minha alma pelada por aí, eu mereço mais é que riam mesmo dos meus defeitos. E no fundo, essas pessoas, eu sempre soube, morrem de medo de ver alguém tão parecido com elas exposto ao mundo da maneira mais humana possível. Com celulites, manias, medo de não ser amada, fracassos, vitórias alarmadas sem medo do egocentrismo e desejos estranhos.
Tem também um ou outro mais limitado que não entende absolutamente nada do que eu escrevo e me pergunta "Mas e aí? Quando você casar, tiver filhos... vai escrever sobre o quê?", achando que a busca ou a angústia por algo inexplicável (e basta estar vivo para sentir tudo isso) acabam com alguma decisão como assinar um papel.

E minha família, mais especificamente minha mãe, sempre teve muito medo que eu sofresse com minha personalidade, escolha profissional ou seja lá o que for essa coisa que me faz escrever tanto sobre mim e sobre tudo o que me acontece.

Medo de eu me preservar menos que as outras pessoas e encher de armas os inimigos para ser bombardeada depois. Medo de eu não ser compreendida ou respeitada justamente porque tem sempre algum desavisado machista que acha que eu escrevo pura e simplesmente sobre sacanagem. Ela, e meu pai deve tb conversar assim lá com São Pedro, sempre me diz, quando reclamo que não existe homem para mim, "com seu jeito, você deve assustar 98% dos pretendentes".

A única que sempre esteve muito bem resolvida em relação a esse assunto e nunca teve um segundo de dúvida quanto ao caminho escolhido fui eu mesma. Eu, do fundo do meu coração, tenho um orgulho absurdo de ser quem eu sou. Tenho um orgulho absurdo de transformar tudo o que dói em mim em poesia, ao invés de sair transando com o primeiro babaca (não que eu já não tenha feito isso e escrito sobre isso e blá-blá- blá...), encher a cara, me drogar ou simplesmente fazer de conta que nada está acontecendo, nada me atinge e eu sou superior a dor. Dói mesmo, eu me apaixono mesmo, eu sou intensa mesmo, eu me ferro mesmo, às vezes eu ferro as pessoas mesmo. Tudo é bom, tudo é vazio, tudo é bom de novo. Viver é um absurdo e não dá pra passar por isso tão ileso.
 
Mas do que tenho orgulho mesmo é de ter construído um mundo onde qualquer pessoa, da mais incrível à mais idiota, possa virar personagem. E de ter construído um mundo onde todos os sentimentos viram enredos com trilhas e a direção de arte certa. Dos sentimentos mais banais àqueles que nos fazem querer se rasgar inteira ou abraçar o mundo. Um mundo onde o por acaso, o cotidiano, o qualquer, o cinza, tudo pode ser motivo para gostar mais ou sentir mais a vida.

E nesse mundo, onde as pessoas acham que eu vivo nua para quem quiser me ver de todos os ângulos e me explorar e me sentir e me provar e me sacanear. Nesse mundo, eu vivo bem escondida e protegida. Ou você achou mesmo que eu construiria um castelo tão escancarado sem ter pensando na fortaleza perfeita para mantê-lo intacto?

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