sábado, 2 de outubro de 2010

Da arte de ser mais um

Acontece de repente, quando acaba o pão de queijo no café com revistas ao lado do prédio que tem cheiro de umidade. Um dia que não prometia absolutamente nada, talvez chuva, mas nem isso se cumpriu. Não é dia de trânsito nem de acidente. Não é véspera de nada e tudo vai tão calmo que você poderia até esquecer o celular em algum lugar e só se dar conta no dia seguinte, na hora do despertador. Naquele segundo, lá no café sem pão de queijo, você topa o pão de batata mesmo, se esquece um segundo pra ver uma chamada do Caderno 2 e sabe que foi aceito. Simples assim. Você está há meses indo de escova e lápis de olho e nada. Você levou todos os seus livros e algumas reportagens que saíram falando de você, e nada. Você tentou ser inteligente, ágil, prestativo, misterioso, difícil, fazer piadas sexuais, nada. Até que numa tarde, de repente, porque já acostumaram com a sua cara ou só porque enfim sua natureza legal venceu a sua vontade de ser legal, você se torna mais um. Você consegue, finalmente, ficar em silêncio ao lado das pessoas, e as pessoas conseguem, finalmente, gostar de você mesmo, ou principalmente, porque você, finalmente, ficou em silêncio. E então você é mais um. E tanta dor de barriga e medo, tudo aquilo que faz você se sentir tão especial. Você esquece que é especial e se torna mais um. Só mais um a comer um pão de batata velho desejando o pão de queijo recém saído do forno. Só mais um. E no meio de tanta gente querendo provar coisas, você dá o desconto e só as escuta. E de repente, estão fazendo silêncio para escutar você. E, de repente, pela primeira vez, porque dessa vez sim é a sua vez, você diz algo e todos riem de modo a te mostrar que você conseguiu. E você não tem mais dor de barriga e nem ódio e muito menos ânsia de vômito. Você não tem nada, você tem é uma massa que se mistura e sente tanto com todos que se anula. Se anular, você vai descobrir, era só o que você precisava pra ser feliz. Ser mais um, você vai descobrir, é o que faz a gente passar meses exaltando o que somos. O fim de toda a arrogância e genialidade é uma simples frase do tipo “ah, você já vai?”. Fazer falta é simples, popular, sem nenhuma dramaticidade e quase não dá bons textos. Ser sozinho rende o mundo, mas me parece tão pequeno perto dos meus passinhos de dança, depois, ao chegar em casa.

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