sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A tecla 'A'

Quem tem MAC sabe a dificuldade que é arrumar um cara que entenda de MAC. PC qualquer CPD formado em segundo grau técnico sabe mexer. Já MAC é coisa para uns tipos estranhos. Um cara que fica entre um engenheiro frustrado e um artistas plástico mais frustrado ainda.
Com sorte fui apresentada a um tipo desse, semana passada. Meu computador tava todo bichado e o tipo estranho veio na hora certa. Por 300 paus deixo seu computer zerado e ainda arrumo seu i-pod, moça.
Beleza. Topei. Nem sei se fui roubada, mas topei porque o cara trabalha na esquina da minha rua e isso pra mim foi um sinal de que aquele cara merecia todo o dinheiro do mundo. Depois da minha mãe que mora há 3 quadras de mim e sabe fazer nhoque de mandioquinha, o Marcelo dos MAC acabava de ser eleito o cara mais legal do universo.
Ele falou que ia precisar passar a tarde com o meu computador e eu quis sofrer com isso, afinal: eu trabalho nele. Afinal: minha vida tá nele. Afinal, caceta: eu tenho dezenas de fotos da minha bunda nua nesse computador! Fotos que fui tirando ao longo dos anos pra ver se anda servindo de algo o dinheiro gasto com cremes, massagens e malhação. Minha empregada outro dia falou: “vixi, a senhora não percebe, mas antes era muito pior”! Adoro a Maria, ela sabe valorizar a minha bunda como ninguém.
Foi então que inventei uma desculpa aqui, uma curiosidade ali, e resolvi ir junto com o meu computador. O tempo que fosse necessário eu ia ficar alí, junto dele e do Marcelo dos MAC.
O Marcelo olhou pra mim e falou: “a senhora não confia quando faz um exame médico? É a mesma coisa, tem que confiar no profissional!”
Pois então, mas eu confio tanto nos médicos que inclusive eu vou junto com o meu corpo ser examinada por eles, não? Enfim, fiquei 4 horas e meia na casa do cara. Olhando meu filho ser desmontado, remontado, desmontado de novo e cuidando para que nenhuma foto da minha bunda antiga fosse descoberta. Da bunda nova até vai lá!
E quatro horas na casa de um desconhecido estranho só poderia resultar em um papo muito estranho. Afinal, eu posso ser tudo (ser louca o suficiente pra ficar anos fotografando minha bunda, ser louca o suficiente pra ficar 4 horas na casa de um cara cuidando para que ele não visse nenhuma das fotos, sendo que o mais fácil era ter gravado as fotos num cd e apagado do computador), mas eu não sou mal educada. Ou seja: puxei papo com o cara.
Contei que era escritora, coisa e tal. Trabalhava em casa. Tinha até uma dúzia de fãs aqui e ali. E ele olhou sério pra mim e falou: você escreve sobre amor, não é?
Poxa. Tá tão óbvio assim? Só porque sou menina de batom rosinha? Só porque sou tão carente e possessiva que não consegui ficar longe do meu computador 4 horas? Só porque meu i-pod só tem musiquinha mela cueca? Porque falei que tenho fãs meninas? Por que? Heim? Por que?
E ele me mostrou com simplicidade da onde tinha tirado aquela idéia, apontando para a tecla “A” do meu computador: “tá apagada, de tanto você escrever sobre o amor o “A” apagou”.
E foi naquele momento, nos fundos de uma casinha simples e cheia de monitores e teclados mortos, e que um dia já receberam e escreveram muitas cartas de amor, que eu tive a brilhante idéia: tá na hora de mudar um pouco esse foco! Cheeeeega desse assunto! Não agüento maaaais falar disso! Preciso trabalhar, viver e ser feliz com minhas outras teclas!
Aí cheguei em casa e resolvi escrever o primeiro texto de não amor do ano. Melhor: resolvi recomeçar o ano escrevendo o meu primeiro texto que não fala de amor. Um texto que fala de qualquer coisa, do meu MAC que quebrou, por exemplo. Ou da minha rua que fica perto de tantos lugares legais como a casinha do Marcelo dos MAC. Ou das fotos progressivas da minha bunda, da minha empregada Maria, do nhoque da minha mãe. Ou até mesmo de uma tarde qualquer e sem grandes emoções como tantas.
E foi então que eu descobri uma coisa fantástica, talvez a mais fantástica de todas: quando a gente pára de procurar desesperadamente por um amor, a gente percebe que pode amar qualquer coisa. Eu posso amar meu computador, minha rua, minhas fotos, minha empregada, o nhoque da minha mãe. Ou até mesmo uma tarde qualquer e sem grandes emoções como tantas.
Droga, e eu achando que dessa vez não ia bater na mesma tecla.

Nenhum comentário:

Postar um comentário