Vai dizer que não adora essa vida. Ninguém no coração e eu aguento até três pedaços de pizza às duas da manhã. Como até a de chocolate com banana. É você também, não dá pra negar. Um pouco descompensada, mas é. Até tentei mas foi só olhar o cara dando som meio que trepando com o som. E tudo começou de novo. Agora é toda semana, toda hora. É isso mesmo? É. E quando acaba. Quando acabar a graça. Façamos um trato então, mocinha, a hora que acabar a graça, será simples como isso mesmo. Uma graça que acaba. Não pode ter nojo, não pode ter ressaca, vontade de morrer, medo de canais podres irrigando infertilidades absurdas pelas entranhas. Medo desse deus do amor dizendo que só mocinhas pra dentro podem ser amadas. O cruel deus do amor que fala de amor como um merecimento pra quem aguenta não sucumbir pelos buracos sendo que já nascemos furados. O deus falso como um sacerdote em busca de casas pra almoçar de graça e ouvidos pra fazer necessidades fisiológicas. Protetor de doenças e padroeiro de festas de gente que ri corada e faz listas de casamento. Diabo, entenda, estou pra fora num grau absurdo, vomitando minha virilidade, entende? Eu sou uma enorme almofada esfaqueada inundando o mundo com minhas espumas fáceis. Combinado? Porque, veja bem. Não é isso que me tira do rumo do amor, do caminho do amor. É só porque amor demora mesmo, pra acontecer de novo. Mas são tantas coisas lindas pelo caminho, não são? O mocinho trepando com o som é provavelmente o milésimo dos últimos mil anos que estão sendo esses dias. Ele não diz absolutamente nada do que eu quero ouvir, tem os olhos descolados de seu fundo, tem aquele riso de quem se lixa para as outras coisas todas que voam entre a nossa vontade de se devorar. Ainda assim, nesse segundo, nesse segundo que antecede meu pulo na jugular, a força da minha mão que espreme intenções até que só sobre o dia seguinte. São tantos charmes e ombros e cheiros e jeitos de fazer tudo. E estou feliz assim, sim, às vezes as olheiras me avisam que daqui a pouco vem alguém da auditoria, o homem de voz grossa que mora dentro da minha vozinha e que me avisa, de tempos em tempos, que é preciso parar de gastar alma por aí. Porque, mesmo que me pareça não ser muito uma coisa da alma, não se faz nada disso sem amar do avesso. O que dá sempre tudo na mesma e infinita merda que é: viver cansa mas depois que a gente caga dá fome de novo.
É só isso, me perdoa, daqui a pouco passa, mas é tão lindo ter fome de novo. Pensar em massas e pau de massa. Eu esfolando, alisando, esticando a fome. Fazendo nhoque de desejo. E passando o resto do pão no resto do molho. Quase comendo os cacos do prato como aperitivo. É assim que gosto também, também sou eu. Eu e minha sombra preta nova. Que deixa meus olhos como de uma águia faminta. Dando rasante sempre que aperta meu estômago, que a essas alturas, já mora no meu peito. Daqui a pouco o coração estraga tudo, troca de lugar com o cu, e eu vou novamente ter o apetite anoréxico de quem não suporta a vida. Eu vou novamente sentir a vertigem de estar tão viva que não cabe engolir terra pra parar em pé. Estar abaixo do amor é como ter a proteção da terra. Amar, que deveria aproximar de Deus, jamais dá essa sensação boa de ter um pai que cuida de tudo. Mas agora, agora, vivo do tamanho de quem se enche sem medo de acabar. De quem sente o gosto mesmo empanturrada. E descobre espacinhos dentro de si pra mais um pouco. De quem chupa anti-ácido mas não deixa de pedir cassoulet com rins de vitela macha. Minha imagem é de uma criança de bochecha gorda batendo com os talheres. Venham! Venham! Venham!
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