domingo, 6 de fevereiro de 2011

Muito prazer (2005)

Uma breve apresentação da minha pessoa para o ano que chega.

Eu tenho medos bobos e coragens absurdas. Eu vivo cercada de pessoas por fora da minha bolha egocêntrica, infantil e sensível.

Eu preciso de sal e açúcar para não virar os olhos de pressão baixa e hipoglicemia, já tive ptiríase aliquenóide crônica e tenho prolapso da válvula mitral.

Eu quase nunca sei se uma palavra começa com e ou com i.

Escrevo por três motivos simples: preciso aparecer e não sou bonita o suficiente, preciso matar o tempo e preciso não morrer.

Sou fútil, entro em pânico pela moda, mas meto um chinelinho pra parecer desencanada. Sou romântica, entro em pânico por não ser amada, mas meto um... Bom vocês já entenderam o contexto pobre.

Eu vivo à espera daquele momento, mas não sei que porra de momento é esse.

Às vezes sinto cheiros e morro de saudades de coisas que já não me lembro mais.

Eu me orgulho de todas as minhas lembranças ingênuas, mas tenho consciência de que foi a minha fragilidade cansada que me transformou numa pessoa irônica.

Eu tenho uma risada escandalosa que me envergonha e uma mania ridícula de imitar a Madonna nas pistas de dança. Às vezes eu só queria estar deitada com meu diário, olhando as estrelas e me masturbando, igual o Leonardo DiCaprio naquele filme de drogados.

Passo metade do dia odiando minha vida e querendo ser sugada pela minha própria insignificância. A outra metade passo rindo do quanto sou dramática e exagerada.

Eu sei de cor o nome de todos eles, mas faço de conta que já perdi a conta. Eu sei de cor tudo o que tenho que fazer para dar certo, mas tenho medo da responsabilidade de ser notada.

Adoro o toque do telefone que quebra o barulho do abandono, a força leve da caneta no papel que pode transformar tantas coisas e o som do carro chegando na chuva para me salvar. Eu adoro ouvir música bem alta, do som da agulha no disco e do resto do Sol que entra pela janela me trazendo calmaria por pertencer a algo e faniquito por não pertencer a tudo.


Às vezes, eu gosto apenas da folha em branco, do silêncio, da noite e da janela fechada, de preferência todos juntos.

Adoro o som de crianças num parquinho, mas como nem tudo são flores adoro o pai sentado no banquinho da praça louco para brincar no trepa-trepa.

Apesar da minha espera em viver um agrande amor, abasteço meus buracos de falsos cognatos. Homens que parecem ser.

Acho tudo o que se refere ao amor extremamente brega. Acho tudo o que não se refere ao amor extremamente infeliz.

Não sou lésbica mas adoro as mulheres, seus cheiros, cabelos, cinturas e mil faces para disfarçar o óbvio. Quando vejo uma mulher bonita, em vez de invejá-la me pego imaginando como ela seria fazendo amor: suas caras, bocas e sons.

Tenho crises de pânico mas nunca tomei nenhum remédio, acho normal que às vezes o ar se despeça do meu mundinho fechado e me faça vagar pela falta de pressão do universo. Minha mão fica tão gelada e meu coração tão quente que eu pareço um petit-gateau.

Tenho medo de vomitar e não parar nunca mais de vomitar. De bater a cabeça desmaiada na pia e morrer solitariamente, entregando ao mundo por impotência minhas vísceras magoadas e sujas.

Eu tenho vontade de pisar na grama cheia de insetos que pinicam, de me sujar na bosta do cavalo, de corroer minhas neuroses no ácido do meu fígado, de dormir melada de amor. Mas sou mais viciada em banhos do que em qualquer outra coisa.

Eu cansei de papo furado à luz de velas, eu cansei da ansiedade e da ilusão de princesa. Eu prefiro um DVD e um pijamão com a minha cachorrinha e todas as minhas guloseimas no armário da cozinha.

Mentira. Tudo mentira. Eu corro atrás o tempo todo. Mas acabo dando de cara com a minha bunda. E eu odeio a minha bunda.

A maior alegria para mim é colocar a música “This Fire” do Franz Ferdinand e berrar, até porque depois de berrar eu fico rouca e posso fingir que sou outra pessoa.

A última vez que tentei ser meiga falei: não tá vendo que agora eu sou meiga, porra!

É isso, não vou falar do Bush, não vou falar do Lula, não vou falar do beijo de sangue do filme Os Sonhadores. Não vou falar de nada que não seja meu umbigo. Sou essa mala monotemática mesmo, chata, obsessiva e sem sobrancelhas, mas que ama muito mais do que odeia, apesar de odiar isso.

Feliz tudo para todos vocês.

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