sábado, 2 de outubro de 2010

Ana Bolena e meu momento nerd do final de semana

Ontem cheguei ao último capítulo da segunda temporada de The Tudors. Meu vício nessas séries “históricas” começou com Roma, que assisti (as únicas duas temporadas) em menos de uma semana. As primeiras duas temporadas do Henri VIII bonito de doer a alma eu matei em menos de cinco dias (sim, eu fico sem dormir, por exemplo, não é muito normal, mas é assim que sei gostar de qualquer que seja a coisa, até que a temporada acaba e (ufa!) tudo fica bem de novo).
Depois de fazer o rei terminar seu casamento com a espanhola Catarina, brigando assim com o imperador Carlos V e com seu próprio povo, Ana Bolena seguiu conseguindo muitas coisas com sua beleza e inteligência. O rei brigou com o papa mudando pra sempre a história da Igreja Católica, brigou com a França, renegou a própria filha e, por fim, começou até mesmo a mandar matar todos (até os amigos mais queridos) que não considerassem Ana a rainha da Inglaterra.
Pouco tempo depois de casados, quando Ana já não era mais novidade, não embuchava de jeito nenhum de um menino macho herdeiro e andava chata e deprimida porque não se sentia mais amada, Henrique já não aguentava mais ver a beldade caminhando pelo palácio e decidiu mandar decapitá-la com a desculpa de que ela, uma bruxa promíscua, precisava morrer para que ele “renascesse” e pudesse reaver, para si e para o mundo à sua volta, a paz e a pureza.
Na manhã de 19 de maio de 1536 (juro que não olhei no Google, eu decorei mesmo, tô falando, não é normal, eu vicio mesmo nas coisas) Ana teve seu pescoço cortado em praça pública. Antes (e essa parte é verdade porque agora sim pesquisei na Internet) ela se ajoelhou e pediu às pessoas que, assim como ela, não deixassem nunca de amar o rei. Apesar de tudo.
Tudo isso seria apenas uma história contada de milhares de maneiras diferentes (e, para mim, em um DVD que tenho que devolver até terça meia noite) não fosse a bizarrice ocorrida com a minha pessoa na noite de ontem.
Conforme Ana caminhava para a morte, sem nem mesmo poder se despedir de seu amado, eu comecei a me contorcer inteira de uma dor poucas vezes experimentada na vida. Um rio de lágrimas, com direito a tremedeiras, espasmos, murros no peito, suores frios e olhadas significativas para a janela, me fez pensar seriamente em internação. Definitivamente não era normal sofrer assim por um capítulo de série inglesa que, além de ser pura encenação, era de uma temporada que já acabou faz tempo.
Ana não era nenhuma santa. Fazia tudo pensando em manter-se no poder, seduziu o rei pouco se importando com a desgraça da rainha Catarina (que morreu infeliz, solitária e sem poder jamais reencontrar sua filha Mary), arrumava encrenca com parentes e amigos do rei, dava suas afiadas opiniões mesmo numa época em que mulher boa era mulher que dizia amém pra tudo (mudou muito?) e era chegada em música alta com bebidas alcoólicas… Enfim, as pessoas a odiavam porque Ana era de verdade (eu sei gente, tá meio ridículo esse texto, mas eu precisava escrever isso, desculpa). Intensa, passional, louca. Amália, da música, era uma submissa imbecil passadora de cueca de malandro brocha. Ana é que era mulher de verdade.
Segundo o Google também me informa, as cartas do rei Henrique VIII para Ana Bolena chegavam a ser infantilizadas, tamanho era o seu amor. Iniciais formando coraçõezinhos e daí pra pior. Como, meu Deus, como um amor desses SIMPLESMENTE ACABA? E o pior, com que alívio Henrique fica sabendo que o pequeno pescocinho de sua amada já rolou! Ele chega até mesmo a comemorar (o Google, na forma de mestrados de estudiosos ingleses, confirma isso também) o fim desse tormento chamado gostar de alguém de verdade. Ele estava livre da bruxaria do amor!
Henri era uma dessas pessoas que não sabem amar. O amor é uma doença e seu fim uma promessa de equilíbrio e bons tempos. Estamos livres da bruxaria! Pior: ele, como tantos que conhecemos pela vida (e que duramente reconhecemos o tempo todo dentro da gente) era um viciado em decepar cabeças, um incapacitado na arte de continuar sentindo. Enjoei, não quero mais, ficou chato, está atrapalhando meu trabalho, falou o que não devia, não fez o que eu esperava, foi tão intenso que acabou rápido (e não foi isso que eu fiz assistindo mais de vinte episódio em uma semana?), qual a próxima novidade da lojinha de brinquedos?
Com o fim de Ana Bolena, não só Henrique estava curado de sua instabilidade emocional como não precisaria nunca mais cruzar, pelos corredores do seu castelinho, com os restos usados e desgastados da mulher que, não fazia muito tempo, tinha sido razão e inspiração para que ele revolucionasse a história da Inglaterra e do mundo.
Nos próximos capítulos, o incansável Henrique VIII terá outras tantas mulheres, as quais me recusarei a assistir. Todas serão infelizes em algum momento, mas todas, em algum momento também, pensarão o estúpido e tão comum “comigo vai ser diferente”. Se ele já não estivesse enterrado há séculos, ia desejar do fundo do meu coração que alguém cortasse sua cabeça. As duas.

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