Ontem, voltando pra casa cedo porque não tenho mais saco nem pra balada, nem pra papinho de balada, nem pra cigarro, muito menos pra garotinhas que dançam na pista olhando a bunda no espelho e garotos que perguntam “ah, você escreve? Mas trabalha com o quê?”, tive o insight do ano: a pessoa mais chata do mundo é a pessoa “nova feliz”.
Sabe o cara que foi pobre e brega a vida inteira e de repente começa a ganhar grana? Que ele faz? Pagode, churrasco, barulho, compra carro vermelho importado e escurece os vidros, vai pra Paris e faz aquela foto super criativa segurando uma miniatura da Torre Eiffel (mas é a Torre mesmo, num magnífico efeito de ilusão de ótica ), enche a cara na balada e trata o garçom como alguém de uma casta muito distante e inferior, bota sunga branca e faz pose de ladinho em coqueiro torto. Todo mundo sabe e reclama “novo rico é uma merda”.
Mas nada é pior do que o novo feliz, o cara que foi triste a vida inteira e de repente começa a ficar feliz.
O novo feliz, assim como o novo rico, quer que todo mundo veja que agora ele está podendo. A única diferença é que o novo rico chega de Audi e o novo feliz chega acompanhado de seu belo, novo e caro sorriso. Coisa pra poucos.
O novo feliz é o famoso puxa pista. É o cara que não foi feliz aos vinte anos, época que era engraçadinho chamar os outros pra “bombar com aquela música”. O problema é que o novo feliz só conseguiu grana pro psiquiatra e pro Prozac aos trinta. Época em que todos os seus amigos já não querem mais saber de se acabar nas baladas. Mas ele super anima a galera “cara, vamo aê, meu! Cê tá muito velho! Desarma esse corpo!”.
O novo feliz, assim como o novo rico, ainda não sabe lidar com sua nova situação. Por isso tanta alegria lhe sobe à cabeça: só fala na sua felicidade, mostra as gengivas além da conta, esbanja piadas. Sua boa disposição e humor chegam a ser arrogantes.
Ele não tem pressa, está apenas super envolvido com as coisas. Ele não tem ansiedade, está apenas muito empolgado com o mundo. Ele não corre porque está estressado, mas porque quer sentir a vida. Mais um pouco de fluoxetina e ele dá a bunda.
O novo feliz é o cara que te recrimina por estar puto porque o trânsito não anda. É o cara que recrimina seu olhar realista e um pouco cansado pras coisas do mundo que são como são. É o cara que sempre agüenta mais meia hora na noitada, afinal, todo mundo é velho, menos ele. O que ele não entende é que você não está exatamente velho, apenas está maduro em sua alegria, você não precisa mais pular na pista e encher a cara pra ser feliz, com um livrinho embaixo das cobertas (ou um amorzinho legal) você já consegue essa proeza.
O novo feliz, seja porque começou a tomar remédios, seja porque fez imersão em Freud em algum encontro da firma em Hotel Fazenda “liderando com liderança”, seja porque ficou magro ou seja porque é o mais novo seguidor do The Secret, é o dono da razão, das festas, da sapiência e do verdadeiro significado da vida. Coisa que a gente achava que era com quatorze anos e era bonitinho. O novo feliz adquire instantaneamente um cérebro de treze anos.
O novo feliz é cheio de amigos novos felizes (e um ou outro eterno feliz que se comporta eternamente como se isso fosse uma novidade). Juntos, essa galera tão novata na alegria ocupa seu tempo organizando muito sexo, muitas festas, muitas viagens e muita qualquer outra coisa que tenha gente insegura dando soquinhos no ar.
A verdade é que o novo feliz é a coisa mais deprê do mundo.
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