sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vai, Lemão!

É errado ter um programa idiota na televisão que arrecada mais dinheiro (da audiência, dos intervalos, dos “merchans”…) que qualquer programa educativo, informativo ou sócio-ambiental? É.
É errado pensar que o Zé pode não ter dinheiro suficiente para o arroz, mas gasta lá seu mísero dinheirinho suado numa ligação para votar no BBB 7? Opa se é.
E ficar vendo o alemão ensinar um argentino a falar “posso te encoxar” enquanto o mundo se esvai em violência, caos nos aeroportos e aquecimento? Erradíssimo.
Mas sabe o quê? Por isso é que é tão bom. Porque é errado. Porque está todo mundo com o saco cheio do que é certo. Porque está todo mundo com o saco cheio de ser certo se o mundo é tão errado. Viva o alemão!
Na próxima noite de terça eu não saio de casa nem que o Clive Owen queira me levar ao DOM (tem tv no DOM?). Torcer pelo alemão, ainda que seja óbvia a sua vitória esmagadora, me anima mais que a Copa do Mundo, o Manhattam Connection (o Mainardi não gosta de música!), o novo filme do Woody Allen, a nova Piauí (muita coisa pra ler, né?) ou qualquer visita de um macho alpha de primeiríssima linha (dá pro macho alpha chegar depois que acabar o programa?).
Sim, é errado torcer assim por um bombado com sotaque de paulista “forgado” e que nos presenteou com nada mais, nada menos, que banalidade: a velha fórmula de gostar da mocinha do interior difícil e apenas “usar” a urbaninha que vai lá e faz o que está com vontade de fazer. Ainda assim, terça que vem vou estar colada na tv, torcendo pelo meu querido Diego.
É errado perder tempo com um programa que paga uma torcida falsa, explora a população e em troca não dá nenhum segundo de conteúdo inteligente. Mas eu fico me perguntando, então, o que seria o certo. Continuar aqui lendo o meu Sartre e com vontade de cortar os pulsos? Continuar todas as manhãs lendo o meu jornal e me dizendo em mantra “mundo de merda, mundo de merda, mundo de merda”? Os jovens já morreram por dias melhores, em que os trabalhadores chegariam ao poder. Adiantou? Agora fica essa sensação de que não tem mais nada pra fazer. Aliás, tem: torcer pelo alemão.
Que bom que existe banalidade. Que bom que eu posso ter um dia de merda entre trânsitos, enchentes, ar podre, chefes escrotos, homens fracos, mais notícias de balas perdidas, colegas de trabalho falsos, pagamentos atrasados, trombadinhas de rádio (é o quinto que me roubam em menos de um ano), novas estrias, vizinhos folgados, parentes malucos e… chegar em casa e ver o alemão passando perfume no pinto. O alemão dizendo que vai pegar um por um. O alemão malhando de sunga branca. O alemão dizendo que fez o que o pai dele ensinou. O alemão dormindo de conchinha. Vai lemão!
O Diego exerce em mim o mesmo poder de uma promoção de sapatos. Não é a coisa mais importante da minha vida, é um prazer fugaz, não vai me tornar uma pessoa melhor, mas como me relaxa e me faz feliz naquele curto espaço de tempo. E ser feliz em um curto espaço de tempo já é muita coisa nessa nossa vidazinha chata, não?
Vai Diego! Vai Lemão! Sim, é muito errado torcer para você, mas a vida é errada mesmo. É errada essa casa toda bagunçada e a lasanha fedendo lá na pia suja. É errado ficar recebendo essas visitas aqui, de pessoas que só querem levar pedaços da minha alma, mas não me dão em troca sequer um grãozinho de coração. É errado inventar paixões semanais só para não encarar que tudo ficou sério e adulto e chato pra cacete. É errado ter 345 projetos para entregar amanhã e nenhuma idéia de como começar.
É tudo tão errado. Aqui dentro da minha casa, aqui dentro do meu peito. E lá fora, no mundo, vixi, nem se fala. É tudo tão chato, tão fraco, tão pouco.
Mas o alemão é forte, é engraçado e agora tem um milhão de reais. Ele deu certo! Ele eliminou mal humorado por mal humorado com seu bom humor. Ele pega a mulher que quiser. Ele seduz até os inimigos. Ele deu porrada em alguém lá no Guarujá, mas eu aposto que esse cara que apanhou adora ele. Ele dormia com duas mulheres e isso pegava bem. Inclusive para elas. Ele falou que ia abaixar a calcinha da Carol e ela não mandou ele para o paredão. Preferiu mandar o outro que estava apaixonado por ela, mas jamais o alemão. E sabe qual é a fórmula para o Brasil amar tanto uma pessoa que nem parece brasileira? Ele é feliz.
No fundo, mesmo lendo tanto, pensando tanto e filosofando tanto, a gente gosta mesmo é de quem é simples e feliz. A gente não se apaixona por ninguém que vive reclamando e amassando jornais contra a parede. A gente se apaixona por esses tipinhos banais que vivem rindo. E a gente se pergunta: que é que ele tem que brilha tanto? Que é que ele tem que quando chega ofusca todo o resto? Como é que dá pra ser feliz nesse mundo?
Vence quem passa por essa vida rindo. E se o preço que se paga por ser um pouco feliz é ser um pouco idiota, dane-se. Eu vou ser bem idiota na terça-feira. Se bobear vou até dar uns “dois real” pro Boninho. Tadinho, deve estar precisando. Lemão! Lemão! Lemão! Vai lemãããão!!!!(Mas se um dia ele for trabalhar no Zorra Total nego até a morte que escrevi esse texto em sua defesa.)
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário