Ao lado do meu computador tem uma taça de vinho e uma água de coco em caixinha. Abro a página em branco e me pergunto: será que eu volto, ou deixo assim, como está? Será que quero voltar a me expor, ou deixo assim, no mistério? Adoro a escancarada e adoro a que faz as malas e some de vista. Adoro e detesto as duas.
Minha tv ligada em filme de sacanagem e meu ipod tocando Nina Simone. No chão tenho o jornal do dia e uma manchinha que não conto o que é. Nem a pau.
Esses drogados de merda, penso isso enquanto me pergunto: será mesmo que minha mão é feita de massinha? Esses homens cascas de merda, penso enquanto vou me despelando até não sobrar nada porque não sei exatamente o que sobra quando não estou atuando. Quando sou eu mesma, sou a melhor atriz que já conheci. Quando não penso sobre ser algo, merecia um Oscar.
Aí ele chega, tão lindo. E vai embora, tão feio. E liga, tão bobo. E some, tão especial. E eu morro, ainda que não ligue a mínima. E eu to nem aí, ainda que pense o tempo todo em não estar nem aí. E eu abro a porta, a perna, a alma. E quanto mais abro tudo, mais me fecho. E sigo intacta, ainda que toda esburacada. E tenho a plena certeza que cometo o maior erro do ano, ainda que eu não duvide que todos os acertos são mesmo feitos assim: quando a loucura nos vence de alguma forma.
E enquanto eu explico para o meu melhor amigo que o tipo mais grosso na ponta que afina pro meio, é o melhor, quero chorar porque o Dudu, o garotinho de dois anos com seu carrinho vermelho, me olha curioso. A pureza me destrói, por causa da sujeira. E a sujeira me destrói, por causa da pureza. Mas sigo inteira e peço pizza de chocolate com morango. Será que a minha mão é feita de massinha?
Depois, no dia seguinte, lá vem a ressaca. Sempre. Adoro minhas dancinhas e gracinhas e loucurinhas. Mas no dia seguinte acordo e me pergunto: por que é que você não faz cara de paisagem e permanece fina e permanece intocável? Por que é que você não consegue ser difícil, escrota e blasé? Adoro que a Grazi apareceu com seu vestido vermelho colante de couro por dez minutos e foi embora. Por que é que eu não vou embora?
Aí a música começa e quando vou ver já imitei o Michael Jackson, a Madonna e o Tiririca, porque adoro me trair e estragar tudo. E todo mundo ri, mas ninguém me leva a sério. Mas será que quero? Mas será que alguém leva alguma coisa a sério? Eu queria me levar menos a sério. E é isso que faço, quando faço a dança do macaco-galinha-caranguejo pulando cordas. Mas no final das contas, acabo chorando no carro depois de ganhar alguns minutos de cafuné no cabelo. Qual foi mesmo a última vez que alguém fez carinho em mim sem pedir nada em troca? Eu devia ser criança.
Um milhão de amigos e chorando sozinha no carro. Mas no meu ap de 40 metros quadrados só cabe eu mesma. Ainda bem. A coisa que eu menos queria era alguém aqui, agora, me vendo chorar porque não tem ninguém aqui, agora.
E aí o Dom Juan de saias dorme de pijama cor-de-rosa. Não peguei ninguém hoje mas ri bastante. E amanhã vou acordar num tremendo mau humor e morrendo de nojo das pessoas que falam “peguei alguém”. E amanhã vou querer acordar depois de dez anos ou há dez anos. E vou querer congelar na vida de agora, que acontece mais do que antes ou depois. E vou querer sair da gaiola da mesmice. E vou me perguntar de novo quando é que o efeito da droga que eu nunca experimentei vai passar. E vou ler esse texto que minha mão de massinha escreveu e querer me esconder ou nas dancinhas de macaco ou no pijama cor-de-rosa. Mas vou acabar publicando o que eu nunca deveria ter dito, como sempre.
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