Outro dia eu tava pensando nas coisas mais ridículas do mundo. Mentira. Eu tava pensando nisso agora mesmo. Nesse segundo. É que começar textos com “outro dia eu tava pensando...” é uma mania preguiçosa e ridícula que eu tenho.
Eu acho ridículo meninas que não sabem andar em saltos altos e muito menos correr em saltos altos e muito menos comprar um salto alto de bom gosto mas desfilam, mesmo assim, com suas corridinhas ridículas e seus equilíbrios de pato (e patológicos) pelas ruas movimentadas, firmas e feias de São Paulo. Geralmente, são as mesmas meninas meio gordinhas (aquelas dos pés inchados, das canelas com vasinhos esverdeados, quase roxos e dos calcanhares secos e estriados) que usam calças sociais pretas “justérrimas” que dão para ver a calcinha três números a menos que suas bundas gordas mesmo com tanto corre-corre de saltinho ridículo. São essas que dizem “minha flor”, “queridinha”, “um beijo no seu coração” e têm um chulé tão azedo e chato quanto suas vidas. São elas.
Eu acho ridículo quando algum publicitário fala, emocionado (mas antes vamos combinar que o emocionado do publicitário é algo super blasé, voz meio nasalada, baixa, angustiada e gola do casaco atrapalhando a dicção), que vai ter show do “Pseudoxmz4” no “Rouspixmzy Mobile Festival”. Ah, esses artistas sensíveis que rimam Casas Bahia com “compra que ta barato, tia”.
E mais ridículo ainda é que eu fico putinha de não saber que cacete é o “pseudoxmz4ptyxz4aocubo” e corro pra baixar a bosta no meu I-pod fashion. Sou uma escrava das “tendências”, que é uma palavra tão ridícula quanto o fato de terem inventado um emprego pra quem é “tendências”. O que você faz da vida? Ah, eu sou paga pra saber o nome do substituto do baterista do dj gringo do momento. Ah, tá! Cool! Super hype. Aliás, falando em hype, tem coisa mais ridícula do que editorzinho firma de editora quatrocentona te pedindo uma matéria super “hypada”? Ah, mundo. Pra onde eu vou? Todo mundo é tão chato e eu sou tão super mainstream, cara. E essas palavrinhas chatas em inglês continuam deixando qualquer bosta de planejamento ou atendimento ou marketeiro ou enganador profissional parecendo um pastor das vendas. Povo chato. São todos parentes dos telemarketings e das aeromoças, gente paga pra sorrir, pra ser solícito, pra te cobrar o dízimo da peça da moda que você nunca vai usar justamente porque tá na moda mas que você precisa ter só pra abrir mão de usar. Gente com a alegria do Coringa. Por dentro um limbo onde cada célula grita “vai tomar no rabo seu bosta que eu só queria parar de sorrir pro seu dinheirinho de merda e queimar a bunda no sol de Trancoso”.
Acho ridículo esses seres mongolóides que vão até a sacada dos seus apartamentos classe média prime (ganhou mais de 3 paus e 590 você já não pega fila em banco! Ah, que vida chata!) com playground pink, seguranças beges e gesso fazendo desenhinhos rococó no teto e gritam “chupa porcoooooooooooo” ou qualquer xingamento estúpido referente a adversários de futebol. O cara faz questão de soltar seu grunhido suburbano, rouco, grosso e mongolóide enquanto todos dormem (ou dormiam) em silêncio porque dormir deveria ser a coisa mais respeitada do universo. É o único momento no qual você não pensa nem em suicídio nem em latrocínio. Dormir deveria ser respeitado, porra.
Morte aos mongos torcedores de predinhos neo-clássicos de bairros emergentes com zeladores que não podem te ajudar agora porque a passagem pra Buenos Aires tá barata! Pior que esses só os que passam buzinando, como se dissessem “to feliz galera! Acorda aê que eu to feliz e quero abraçar o mundo com meu sovaco amarelado de desodorante barato”. Por que não enfiam a buzina em seus próprios rabos e se auto-comemoram até implodir? Morte aos carrinhos populares com adesivo néon de santa, motor turbo sofrido em populares 1.0 com som de fórmula 1 de DVD pirada de videogame mainstream.
Acho ridículo quando você está fazendo qualquer coisa em algum lugar com uma pessoa e fala, totalmente querendo se livrar daquela pessoa “então, vamos marcar qualquer coisa em algum lugar”? Pô, ridículo, claro...mas vai tentar ser diferente. Vai falar pra aquela sua amiga que a peça de teatro dela é chata pra cacete e que nesse momento você não está a fim que ela venha na sua casa porque o namorado dela te deprime com aquele topete que deixam mais óbvias aquelas bochechas e o dedinho do pé dela, separado a milhões de quilômetros do resto do pé, te causa algo nunca superado na alma. Vai falar pra ver o que acontece. Não rola não. O que rola é falar pra pessoa que você ta vendo agora “por que a gente não se vê qualquer dia desses”. Isso sim rola, é bem aceito. Agora vai me dizer que o mundo não é ridículo?
Cartão Mais, senhora? Cartão Fidelidade, senhora? Cartão Super, senhora? O único cartão que eu tenho é o da drogaria Onofre. Adoro. Adoro farmácia. Já percebeu como as pessoas ficam intensas na farmácia? Quem tem que espirrar, se acaba. É um atrás do outro. Quem tá assado ou com coceira, nem acaba de comprar a pomada já sai raspando um cu no outro. Tudo é mais intenso. A pessoa fica até com dois cus na farmácia. Quem ta gordo, bufa arrasado, se pesa quase com fundo musical e se arrasta até o shake diet na prateleira alta demais pro bracinho gordo e pesado. Pega pra mim, moço? E pronto, mais um casalzinho formado pelo submundo dos renegados. A gorda baixinha que não trepa há anos e o auxiliar Claudyson que ta se achando o maior gato porque deixou crescer o bigode que tem um “Q” de loiro. Acho ridículo os casais formados porque “é o que temos”. Vai fazer um exercício, minha filha. Vai ler um livro, Jamylson. Bora fazer um mundo melhor sem melô de corno cantado por gente em terno e corrente e sem regime pra caber no vestido de noiva da Jamily’s noivas minha gente! Dá pra ser melhor! Acreditem! Eu já fui uma Jamiles e olha lá, até calcinha Calvin Klein eu tenho agora porque a-cre-di-tei! Tem coisa mais ridícula do que a-cre-di-tar? Tem coisa mais ridícula do que aquela vozinha lá no fundo, te dizendo, vai boba, aproveita. Aproveita! Vai lá! Eu tenho a vozinha. Eu sou ridícula. A vozinha da casa própria, do maridão e do casalzinho de crianças loiras. Já viu como pobre comemora um olho azul? Depois eu que sou ridícula.
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