Sempre achei que esse amor era coisa de quem não tinha nada melhor para fazer. Eu só o sentia porque estava infeliz naquela agência chata. Só por isso.
Saí, afinal, da agência chata. E comecei a trabalhar em casa. Amor é coisa de gente “firma” e agora que eu mandava na minha vida, poderia, finalmente, mandar esse amor embora. Tchau, coisinha besta.
Nada feito. Só piorou. Acordava e ia dormir com ele engasgado aqui. Ficava inconformada. Mas aí concluí: amor é coisa de quem tem tempo pra pensar nele. Claro, eu fico em casa o dia todo, no silêncio das minhas coisas, claro que acabo pensando besteira. Aquele papo de mente desocupada casa do diabo, sabe? Amor do diabo. Fui procurar Jesus.
Depois de dez passes e de ler todo o Evangelho Espírita, achei que ficaria tudo bem. Ficou nada. Eu só parei de sonhar que botava fogo na casa do ser amado ou que arrancava os olhos de todas as mulheres do mundo. Parei, talvez, de odiar o amor. Mas o amor, na verdade, ficou lá. Duro que nem pedra. Daqueles que não vão embora nem com reza brava.
Amor adolescente, pensei. Com certeza, se eu virar mulher, esse amor bobinho passa. Amor de menina boba. Tratei, então, de virar mulher. Quem sabe mudando de casa, esse amor não se mudava de mim?
Nada feito. Casa nova, cama nova, novas contas pra pagar. E o mesmo coração idiota. O mesmo amor de sempre. Coisa chata, não?
Mas amor é coisa de Zé povinho. Coisa de quem tem o cabelo ruim e nunca andou de avião. Foram 400 paus na progressiva de chocolate e mais muitos mil euros, dólares e até pesos pra conhecer lugares do mundo que eu sempre quis. E o amor? Foi junto. Acordou, dormiu, fez malas, tirou fotos, mudou de cabelo. O amor não foi pelo ralo junto com a química fedida do meu cabelo.
Ah, que que é isso! Amor deve passar com um novo amor, não? Olha lá aquele menino bonito te olhando, o outro que escreve bonito, o outro que fala cheio de xis, tem também aquele ali, com mão firme. Nada. Nenhum deles foi capaz de me salvar, de substituir minhas células cansadas em sentir sempre a mesma coisa. Nenhum foi capaz, nem por um segundo, de me levar para passear em outros tormentos. Ou outras alegrias. Qualquer outra coisa que seja.
Aí veio a idéia brilhante. Será que se eu mergulhasse de cabeça na estupidez desse amor, não me curava? Será que se eu, por um minuto apenas, parasse de sentir tudo isso de dentro da grandiosidade que eu inventei para tudo isso e enxergasse de perto como tudo é tosco e pequeno, eu não me curava?
Só piorou. De frente para ele e suas constatações tão absurdas a respeito de tudo, só consigo sentir ainda mais amor. E quanto mais e maiores motivos para não sentir, ele e a vida me dão...adivinhem? Sim, o amor cresce. Irresponsável, sem alimento, sem esperança e de uma burrice enorme. Ainda assim, forte e em crescimento.
Mas esse amor, ah, esse amor é coisa de quem não ama a própria vida. Se um dia, um dia eu pudesse realmente ser uma escritora. Ou até, nossa, se eu pudesse escrever pra televisão sabe? Esse amor iria embora, claro.
Nada feito. Escrevo essas linhas de frente para um lindo jardim, que fica dentro de uma emissora de tv. Acho que a melhor e a maior delas. Estou aqui graças ao livro que escrevi. Tudo certo com a minha vida. Ou quase tudo certo. Ainda sinto esse amor ridículo. Essas coisa infernal que me vence todos os dias, todos os minutos.
Mas olha lá quem chegou. Aquele cantor que agora é ator e autor. Aquele que cantava “você venceu, batata frita”. Taí. O amor venceu. Você venceu. Venceu. Venceu. Venceu.
E eu acabo de descobrir, simples assim, a única maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele.
Te amo mesmo, talvez pra sempre. Mas nem por isso eu deixo de ser feliz ou viver minha vida. Foda-se esse amor. E foda-se você.
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