segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Personal Dating

Ele pagava o jantar, me pegava em casa, me fazia rir a noite inteira, tinha olhos claros e um perfume que depois ficava uma semana dentro do meu nariz. As aulas eram sempre na prática. Ele abraçava calorosamente o restaurante inteiro e eu tinha apenas que sorrir superior. Simpática mas pouco interessada em que histórias ele tinha com aquelas pessoas.
Não derrape, Tati. Não derrape. E então a gente fazia de conta que namorava só para testar, naquele momento, meu comportamento. E passava uma loira de seis metros de altura e mil quilos de teta e ele a comia com os olhos. Eu apenas olhava pra baixo e cortava um pedacinho de carne com delicadeza. Ele comemorava. É assim que você deve agir quando estiver com um homem! Oi? E você é o que mesmo? Seu amigo. Ah, é.
Depois íamos a mais uma festa de mafiosos. Os velhos com sotaque mezzo italiano gostavam de mim. Ou simplesmente me olhavam com curiosidade. O que fazia uma franguinha em meio a galinhas tão curtidas? Todas as mulheres da festa exalavam sexo profissional. Eram enormes para todos os lados. Eu nem sabia que existiam bundas assim na vida real. E todas amavam meu professor. Afinal, ele conhecia todo mundo e elas estavam loucas por um bico em tal filme ou novela ou comercial ou sei lá o quê. Servia descolar um jantar de graça também. E essa franguinha com você, é caridade? Ela é escritora. Ahhhhhhh! Eu percebia nesse “ahhhhh” o equivalente a frase “ah, ela pertence a esse universo ultra prive pelo cérebro e não pela aparência”. Ficava na dúvida se era um elogio. Mas ele desfilava comigo. Pra cima e pra baixo. Aula prática, Tati. Você tem que olhar todas essas máquinas em forma de mulher e não perder o rebolado. Oi? Rebolado? Já perdi, amigo. Minha bunda entrou pelo cu. Pelo menos meu trauma de não ter bunda passou. É melhor não ter do que tentar competir com essas mulheres. E ele deixava claro: sem calcinha elas são ainda melhores. Eu sorria. Simpática. Sem me interessar …aquele papo todo da aula. E por dentro. Ah, por dentro. Era uma mistura de bile com fel com lubrificantes com nojo com lágrimas.
Na volta pra casa, no carro, ele me dizia que odiava essas putinhas de festa. Eu quase pulava em cima dele de alegria. Ele corrigia. E me contava em detalhes, já que éramos amigos, das sete mulheres que ele andava transando. Todas mais velhas, mais ricas e mais saradas do que eu. Ele deixava claro. “Gosto dessas tias poderosas, siliconadas e donas de alguma coisa. Você ainda chega lá, Tati.” Claro que chego. E ele me dizia como essas mulheres se comportavam sem derrapar. Mulheres de verdade. Jamais uma cena de ciúme ou carência de garotinha. Eu pensava que elas, no fundo, cagavam pra ele, se aproveitavam do seu corpo ou do seu pseudo dinheiro. Se elas gostassem mesmo dele, seriam meninas frágeis, mesmo sendo mulheres poderosas. Mas eu, como cagava também, apenas sorria, simpática, mas pouco interessada. E me perguntava: que tipo de ser humano é esse pouco interessado? E quase derrapava. Em plena aula número treze. Quase derrapava.
“Tati, você precisa abusar mais dos saltos”. Ele dizia. E lá ia eu com meu pezinho chato 33 nas alturas. E nesse caso, agora sem metáfora, quase derrapava mesmo, a noite inteira. Mas ele me carregava no colo. Uma vez chegamos a um show e éramos um casal muito bonito. Eu no colo, ele paquerando a hostess da porta. E eu, fina que sou ou que era, apenas sorria pra hostess que me achava uma cornuda imbecil. Aí não aguentava e falava uma verdadezinha só para variar. Olha, tudo bem que somos amigos e você só testa meu ciúme para que eu saiba me comportar como uma mulher de verdade quando, no caso, um dia, for um homem por quem estou interessada…mas eu preciso sempre pagar de idiota para as outras mulheres? E ele respondia “é você que está comigo e não ela. A idiota é ela”. Ficava com vontade de vomitar em cima dele. Arrogante filho da puta. Mas meu pé doía por causa da merda do salto alto e eu ia precisar me apoiar nele o resto da noite. Melhor não brigar. Até porque mulher que briga, derrapa gravemente. Era a lição vinte e seis. E eu já estava na lição número trinta e dois e não queria voltar as casas do jogo. Até porque já andava bem a fim de mandar o curso pra casa do caralho.
Um dia ele precisou viajar. Viagem longa de trabalho. Mas vai interromper as aulas assim? Sem me avisar quando vai e quando volta? Vai interromper as aulas assim? Sem me avisar com quem você vai? Vai interromper as aulas assim? Sem me contar tudo o que você vai ficar fazendo lá? E ele percebeu. Ele percebeu. Eu era uma péssima aluna. Um caso perdido. E ele ia comer gringas coroas saradas e ricas que não derrapavam. E abraçar calorosamente bundas gigantes de mocinhas que ficavam ainda melhores sem as calcinhas. Mas ia também, em algum lugar daquele peito cheio de regras e mau gosto, sentir saudade de uma certa menina com Melissinha barata e baixinha. Porque nem tudo está perdido nesse mundo solitário onde todos os loucos sabem viver melhor do que todos os loucos.

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