O que uma mulher inteligente, sensível, bem-sucedida, seletiva, fresca e até mesmo um pouco blasé faz quando está louca pra dar? Me digam: o quê?
Eu não posso, com tudo o que eu sei da vida e com toda a fama de metida que criei ao longo dos últimos anos, simplesmente me maquiar como uma imbecil, botar um decote estúpido e ir caçar na noite. Com o agravante que estou no Rio e, aqui, se você sai assim de casa pode engravidar até chegar na próxima esquina.
Eu também não posso, agora que consegui me livrar de 456 encostos paulistanos, ligar pra eles e pedir uma de peperoni. O maravilhoso “disk ex-namorado ou ex-caso que acabou em pizza” acabou com a ponte-aérea. E novos encostos no Rio estou sem tempo e sem saco de arrumar. Fora eu ainda ter um certo bode desse jeito carioca de sempre festejar a vida e sempre fazer isso ao ar livre e com barulho, o tempo que me sobra fora o trabalho é pra ler e passar repelente contra a dengue.
No mundo perfeito estaria tudo incrível. Estou trabalhando com o que mais gosto que é escrever pra TV, moro no bairro mais charmoso do Rio (e to começando a achar que do Brasil), faço minhas caminhadas na praia quase todos os dias, tenho 3 livrarias lindas a menos de 5 quadras da minha nova casa, estou fazendo novos amigos...minha vida é quase tão perfeita quanto uma novela do Manoel Carlos. Até porque vivo encontrando ele aqui embaixo, na banca de jornal.
Mas lá no fundo. Bem lá mesmo pra falar a verdade. Falta alguma coisa. Não bastasse conviver com um papagaio no meu cérebro 24 horas por dia me dizendo que preciso trabalhar mais, ganhar mais dinheiro, ler mais, me exercitar mais, viajar mais, estudar mais,...ainda tem uma periquita gritando mais alto para ver se abafa todo o resto “vai dar minha filha! Vai dar que é só disso que você precisa”.
A periquita ignora tudo. Ignora que não estou mais a fim de dar pra qualquer idiota. Queria arrumar um namorado, um amorzinho, passear de mãos dadas. Ela ignora. Ela ignora que se eu for agora na padoca ali da esquina, até arrumo uma pica (ou uma picada de dengue) mas que amanhã vou acordar triste como já acordei tantas vezes. Com raiva e com nojo de ter me deixado levar por um desejo físico totalmente sem alma.
E o papagaio manda a periquita para um banho de água fria. Diz a ela pra calar a boca que eu preciso digitar mais, cozinhar melhor, dizer algo inteligente na reunião, me concentrar na leitura. E daqui a pouco o mundo pára, é a periquita que explodiu as agendas e as regras e fez meu corpo todo congelar no pescoço de algum macho que passou na rua com andar firme e ombros largos. Minha vida atual é uma luta entre aves e eu não sinto que sou nenhuma delas. Nem tão neurótica e nem tão dada. Mas com tanta pena voando pra tudo o que é lado, fica difícil enxergar quem afinal eu sou.
Não quero mais esse papagaio na minha cabeça. Esse pentelho que nunca está satisfeito com nada e acaba me deixando louca, com palpitações, insônias, enjôos e olheiras. Mandando eu ser mais, mais, mais. Mas também não quero esse periquita acéfala. Me mandando sair pelas ruas em busca de um preenchedor de buracos. Me mandando ligar pra ex-namorados mortos e enterrados só para não ter que “rodar a catraca”, me deixando com saudade de gente que só me fez mal, me fazendo pensar em ex-caso caído que provavelmente deve estar namorando a quarta ou quinta gorda bizarra do ano (o cara só gosta de fofas bizarras). Essa periquita burra. Me mandando olhar para o bombado cafa que passou correndo no calçadão e me olhou como se eu fosse um filet mignon. Quem em santa decência cerebral vai responder a um olhar desses?
Cansei do papagaio e da periquita. Troco tudo pela pomba da paz. Eu não quero ser um gênio e tampouco a maior pegadora. Eu só quero ser feliz e viver tranqüila. Eu só quero fazer minhas coisas da melhor maneira possível e ter um moço bonzinho que me leve ver o pôr-do-sol no fim de tarde.
E que essas coisas feitas da melhor maneira possível me tragam fama, dinheiro, glamour e sucesso. E que o moço bonzinho me coma loucamente. Claro.
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