quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A vingança do ginásio

Depois que meu twitter alcançou quase 40 mil seguidores, as coisas mudaram um pouco pra mim. Digamos que da nota 6,4 em beleza eu tenha subido para 7,2. O que significa que dos 4 convites para eventos fashion que eu recebia, passei a receber seis. É um pequeno passo para uma mulher fútil, mas para a humanidade não significa porra nenhuma.
O fato é que meu cabelo está bonito de uns tempos pra cá. Meu pai ontem disse “até que enfim” olhando para meu cabelo. Depois desconversou. E meu número de sutiã aumenta a cada ano. O que significa que aos 40 vou virar uma vaca leiteira, mas por enquanto eu engano tranquilamente que sou uma escritora até que gostosinha. Resumindo: ando me sentindo apresentável.
Enfim. Mas por conta desses alguns convites e dessa alguma auto-estima, resolvi ir numa dessas festas que a gente vê em revista, quando tá fazendo a unha, e pensa: esse povo deve ter gases e síndrome do pânico de tanto que chupa o abdômen e força a ossatura facial para parecer feliz. Em algum momento eles devem peidar e chorar e querer muito morrer.
Mas eu fui. Dizendo para mim, baixinho “nem que seja para rir deles depois”. Mas eu estava me enganando. Eu tava era gostando daquilo. O povo bonito que não sai do salão de beleza e dos passeios de barco com o Eike me pegando pela mão e dizendo “você é incrível”. Ah, isso afeta gravemente o coração de uma moça nascida na Zona Leste. Eu queria era ligar pras minhas tias da Moóca e falar “Tia Carminhaaaaa, eu cheguei lá, conta pras prima”.
E eis que na tal da festa, tinha esse cara. Pensa num cara bonito. Agora pensa num cara muito bonito. Agora esquece isso, porque sua imaginação não deve ser capaz de chegar aos pés dele. Só digo que quando aquela raquete de Itu em formato de mão máscula resolveu tirar um fiozinho de cabelo da minha boca e devolvê-lo “paratrás” da minha orelha, meu coração de menina da Pompeia trucidou por dentro. Eu realmente fiquei nervosa. Eu REALMENTE fiquei nervosa. E chupei meu abdômen e nem precisei forçar minha ossatura fácil. Eu tava feliz como só alguém rico e medicado pode ser.
O convite para ouvir alguma música ruim (ah isso é meio óbvio, né? Eu to deslumbrada ,mas o preconceito eu não perco) na casa dele foi negado pela minha pessoa. Ele achou fofo e tal. E eu pensei em explicar que não era exatamente porque eu tenho algum problema com sexo no primeiro encontro. E aquilo nem era um encontro, mas eu também não tinha nenhum problema com sexo no não encontro. Sexo não era um problema. Eu só ia dar uma de difícil porque precisava correr na esteira uns 3 meses até poder tirar a roupa na frente dele. Mas isso não se diz, então eu apenas deixei no ar. “Vai ligando aí, bonitão, que uma hora você consegue”. E ele me achou tão misteriosa que não para de ligar. E eu não paro de malhar a bunda desde quinta passada.
Marquei com caneta BIC velha (pode esfregar o quanto você quiser que a tinta de uma boa caneta BIC velha não sai) um tracinho na bunda. A hora que a beira de minha poupa estiver naquele tracinho (o que significa que minha bunda levantou dois centímetros e meio), eu vou ouvir música ruim na casa do raquete de Itu. Antes disso, charme e mistério.
Pelos meus cálculos, se eu malhar 5 vezes na semana, consigo o feito em 14 dias e uma manhã. Não tá tão ruim assim. Porque eu sou bonitinha e tal, eu só não sou uma puta gata. Mas até aí, a festa estava abarrotada de putas gatas e ele continuava em pé, ao meu lado, se deliciando com alguma besteira proferida de minha mente perturbada e marinada na segunda taça de vinho.
Cheguei a pensar que o Raquete de Itu, cansado de pegar delicinhas abençoadas pela natureza, estava querendo ver como era degustar uma mocinha normal. Tipo quando eu, cansada dos gênios de humor sarcástico apegados a mãe, resolvi ir a uma festa com gente que cheira pó mágico escondido em pérolas falsas, pegar um deus grego que cala qualquer sinapse irônica. Resumindo: o cara sem camisa (ele pulou na piscina uma hora) coloca na lata do lixo tudo o que eu me acostumei a renegar em 31 anos de análise e boa leitura.
Fui embora da festa sem fazer nada com o moço. Você já vai dormir, querida? Não, eu vou fazer esteira. Quatorze dias é muito tempo, mas se eu começar logo, podem ser doze. Ou talvez se ele quiser me comer enquanto eu faço o último dia de esteira, podem ser onze.
Antes de ir embora, pensei em perguntar, logo após seu número de telefone, seu grau de miopia. Mas resolvi encarnar a gostosinha e ainda sai rebolando, para desespero das chucas modeletes que me encaravam dos pés à cabeça. Era a vingança do ginásio. Vocês são lindas? Pois saibam que eu sou bonitinha e tenho cinco livros publicados, quatro roteiros em aprovação e um short list no Festival de Cannes. Ah, e eu sei fazer um homem rir e não é da minha cara.
Agora o Raquete de Itu me liga o tempo todo. Ele quer conversar, ele quer me contar como foi na fila da padaria, ele quer ser normal. Ele não tem muito papo, preciso ser honesta aqui, mas papo é comigo. Pode deixar. Ele só precisa tirar a camisa. E pular na minha piscina que eu não tenho. Ainda.

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