Hoje eu fui ao ginecologista. Cheguei atrasada, perdi meu horário, esperei uma hora pra ser atendida. A sala de espera estava lotada. Tinha uma perua falando alto com a filha adolescente acima do peso, tinha uma moça com luzes bem grossas e amarelas no cabelo. Tinha uma adolescente cheia de espinha com uniforme e um olhar perdido. Tinha um casal com a filha de uns quatorze anos. O pai arranhando uma maleta de couro. Tinha um cara de terno esperando. Tinha uma mulher grávida sozinha. Tinha uma mulher sozinha e mais velha que eu.
De repente começou um filme na sessão da tarde. A moça prendeu o sapato num bueiro e um homem correu para salvá-la de não ser atropelada por um caminhão de lixo. Eles rolaram por uma avenida movimentada de Nova Iorque e todo mundo sabia o que ia acontecer. Naquele momento, revistas foram deixadas de lado. Celulares. Bolsas. Cantinhos de unha. Salgadinhos de gengiva. Cabelos que deveriam morar atrás de orelhas. Por um segundo, rolamos todos juntos colados na cena. Depois, porque a vida continua, as secretárias atenderam o telefone nos seus últimos gritos. A menina de quatorze anos olhou o pai rapidamente pra depois olhar seus sapatos. A menina de uniforme coçou o nariz nervosa. O homem de terno olhou para a porta do consultório apertando os olhos e estalando os dedos. A perua calou a boca aproveitando a paz do seu próprio silêncio e a filha dela mordeu as costas da mãe direita. A moça das luzes sorriu pra mulher grávida. A mulher grávida pegou um copo de água só pra poder dividir um pouco seu peso com o chão. A mulher sozinha alongou o pescoço fazendo cara de pressa. Eu alisei com a língua o cortinho seco do meu lábio inferior torcendo pro dia acabar logo e eu poder colocar o outro travesseiro no meio das pernas e endireitar minha coluna e dormir com menos dor.
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